Feitos de queratina, um material altamente resistente, cabelos e unhas demoram mais tempo para entrar em decomposição depois que morremos. É por isso que, após exumações, não é raro encontrar pelos, unhas e cabelos "intactos" -- como o que ocorreu com o bigode do pintor Salvador Dalí, que estava na sua posição clássica, voltado para cima, mesmo 30 anos após a morte.
"Participei de várias exumações e encontrar cabelo e unha é comum", diz Marco Aurélio Guimarães, médico e professor de Medicina Legal da USP em Ribeirão Preto (SP).
O especialista explica, no entanto, que cabelo e unha vão eventualmente se decompor. "O tempo varia, mas se entrar em contato com o solo, a degradação é mais rápida", diz. "Já fiz exumação com 3 anos de sepultamento e não encontrei material, mas também presenciei cabelos e pelos em cadáveres após 40 anos."
Normalmente, o material fica solto na urna funerária e no caixão, já que a pele em que cabelo e unha ficam presos se decompõe. "O material só fica preso ao cadáver se a pele é preservada por processos químicos feitos antes do sepultamento ou por características especiais do solo."
Cabelo e unha não crescem
O professor explica também que é uma "ilusão de ótica" que cabelo e unha podem crescer após a morte. "Essa ilusão ocorre porque a pele desidrata com a morte e retrai, dando a impressão que o pelo cresceu", afirma o professor.
Com a unha, ocorre o mesmo processo: o dedo encolhe com a falta de água e temos a impressão que a unha aumentou de tamanho. "Não há metabolismo para garantir a hidratação da pele, nem os nutrientes necessários para o crescimento de pelos e unhas."
Ainda, embora algumas células possam permanecer vivas após a morte e até produzirem um pouco de queratina, a produção não é suficiente para garantir um crescimento visível de cabelos e unhas.
Já em relação ao bigode do pintor surrealista espanhol, que, segundo especialistas, estava intacto após sua morte, é provável que a preservação tenha ocorrido por produtos químicos utilizados antes do sepultamento.
"Alguém que preparou o corpo pode ter utilizado algum tipo de produto para fixar o bigode na posição que o pintor costumava usar", diz Marco Aurélio Guimarães.
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